sábado, 11 de junho de 2011

O QUE É SABER EM HISTÓRIA

O QUE É SABER EM HISTÓRIA

História designa tanto o processo pelo qual a experiência humana se constrói no tempo, quanto esse processo enquanto objeto de pesquisa e, ainda o discurso da história contada.(1)
Se entendermos que a história que ensinamos é constituída pelo discurso da história contada, que não é uma ficção pois tem como referencial a experiência humana que acontece no tempo, temos de convir que esse discurso careceria de sentido se se centrasse apenas no acontecimento. A história para ser contada, precisa ter como objeto, não o acontecimento, mas a trama que lhe dá sentido.
O que constrói essa trama, costura dos acontecimentos, são conceitos emprestados pela economia, pela política e pela cultura. Os fatos não são inteligíveis por si sós, mas, por outro lado, são objetos constantes de pesquisa, para onde voltamos sempre para testar nossas hipóteses e por à prova conceitos construídos.
Podemos dizer, portanto, que a história ensinada na escola não se resume a um conteúdo constituído por fatos imutáveis porque já acontecidos, mas, por uma trama que nos desvenda como a vida humana se constrói no tempo, em determinado momento e lugar. Além disso, ao aprender e ensinar história, estamos tentando esclarecer o processo do qual todos nós somos participantes.
Podemos inferir do já exposto que o “saber” em história deve ser descrito não como uma relação de conteúdos fáticos, mas como o desvelamento de um processo que nos enreda no presente. Descreve-se, pois, como conhecimento a ser aprendido e, ao mesmo tempo, como ferramenta de pensamento sobre a nossa realidade, bem como construção de nossa identidade pelo resgate da memória. Trata-se de um saber que se nutre, não de uma visão fria e desinteressada de fatos passados, mas de uma atitude revolucionária, que se propõe a transformar a realidade que nos contextualiza e se estende tanto para o passado quanto para o futuro.
Para que possamos ajudar o aluno a manejar o conteúdo da História como ferramenta de pensamento sobre a realidade, é necessário atentarmos às seguintes condições:
1. Questionamento constante das atitudes e expectativas, com o objetivo do resgate da prioridade do esforço sobre a coisa pronta. Ou seja, perceber que o tempo não pode ser suprimido, pois é dimensão de tudo o que existe. Necessária a superação da visão mágica das coisas, criada pela tecnologia da informação que nô-las apresenta como desprovidas de raízes.
2. Desvelamento das permanências, superando o sentimento de descartabilidade das coisas e das pessoas, mostrando que nossos reais valores não são objetificáveis.
3. Desnaturalização dos acontecimentos, na medida em que são percebidos como resultados de decisões humanas dentro da trama das relações sociais, superando qualquer forma de fatalismo.
4. Superação do individualismo, num ensino que mostre aos alunos que, em todos os momentos da história humana, viver é conviver, que a construção que o ser humano faz de sua própria existência acontece num feixe de relações sociais. E que, portanto, algo acontecido em qualquer tempo e lugar sempre tem algo a ver conosco.
5. Saber entendido como construção e não como aquisição de coisa pronta. O bombardeio de informações a que estão submetidos tanto os alunos quanto os professores, não é suficiente para garantir o nosso aprendizado. Este depende de nossa capacidade de metabolizar informações.
6. O uso da analogia em história , pelo qual, sem cair no anacronismo, os acontecimentos passados tornam-se compreensíveis no nosso presente, com as preocupações próprias que o constituem.

Se válidas essas condições, há que se convir que, apesar de a História ser ciência
que se debruça sobre os acontecimentos e processos como objetos de pesquisa e relato, o saber histórico inclui também posicionamento político. Não há História sem política. Mesmo o positivismo que pregava fidelidade aos fatos tais como ocorridos, numa tentativa de reconstrução do passado, costurava-os a partir da perspectiva do herói, o que implica um posicionamento político.
Como não conseguimos ensinar o que não conseguimos mostrar, para ensinar História temos de recuperar a genealogia de nosso próprio gosto pela História. Recuperar a memória de como começamos a gostar de aprender História e, a partir daí, construir com os alunos um sentido que os motive a estudar. É isso que esperamos vê-los levar da escola.

(1)Segundo Ricardo de Aguiar Pacheco, em “Os saberes da história: elementos para um currículo escolar contemporâneo”,
“Jacques Le Goff nos alerta que a palavra aponta para três objetos complementares, mas distintos entre si: o primeiro é a história processo, a experiência vivida pelos homens na dimensão tempo-espaço; numa segunda acepção a história ciência é o campo das humanidades que toma essa experiência como objeto de pesquisa; mas também é chamada de narrativa histórica, ou historiografia, o discurso produzido pelo pesquisador sobre aquele objeto.”

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